Avanços

Ex-ministros da Saúde compartilham experiências em debate sobre o SUS

Luiz Henrique Mandetta e Nelson Tech participaram de um evento realizado em São Paulo (SP), onde foi apresentado um estudo sobre a ‘Avaliação do impacto do gasto social com saúde sobre a economia brasileira’

Amariles Gama
online@acritica.com
15/12/2024 às 16:08.
Atualizado em 15/12/2024 às 16:14

Mandetta e Tech participaram de evento em São Paulo (SP) sobre o SUS (Foto: Divulgação/Roche)

Há mais de 30 anos presente na vida dos brasileiros, o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo, carrega em sua história avanços e desafios.

Em entrevista exclusiva ao portal A CRÍTICA, os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich compartilharam suas visões sobre a gestão e o acesso à saúde no país, especialmente no contexto das desigualdades regionais, gestão administrativa e eficiência orçamentária.

Mandetta e Teich participaram de um evento realizado em São Paulo (SP), na última semana, onde foi apresentado um estudo sobre a ‘Avaliação do impacto do gasto social com saúde sobre a economia brasileira’.

Mandetta e Tech participaram de evento em São Paulo (SP) sobre o SUS

O levantamento mostrou que o aumento de recursos destinados ao SUS pode ter impactos significativos na economia brasileira, sendo uma ferramenta estratégica para o crescimento econômico e a redução das desigualdades sociais no país.

Henrique Mandetta, que comandou o Ministério da Saúde entre janeiro de 2019 e abril de 2020, tendo enfrentado uma das maiores crises de saúde do mundo em sua gestão, a pandemia de Covid-19, se apresenta em suas redes sociais como “Fã do SUS”.

Durante a entrevista, ele destacou que o sistema de saúde pública do Brasil teve avanços significativos, especialmente em tempos de crise, como na pandemia. No entanto, reconheceu que ajustes ainda são necessários para melhorar o acesso à saúde no país.

“A gente já teve um sistema que não era descentralizado, ele era de Brasília. Era um superpoder que mandava no Brasil inteiro. Uma tragédia! Porque Brasília é muito política, então, um estado pegava dinheiro, outro não pegava. Foi terrível. Tivemos epidemias, foi péssimo para o Brasil. A descentralização é uma das responsáveis do SUS ter conseguido chegar lá na ponta, no Brasil profundo, na população ribeirinha, lá na nação indígena. Lógico que com muitas dificuldades”, comentou.

Henrique Mandetta destacou que o sistema da saúde pública do Brasil teve avanços significativos, especialmente em tempos de crise, como a pandemia

O ex-ministro destacou também os avanços no sistema que levaram o acesso a saúde as comunidades remotas, como ribeirinhos e indígenas. Segundo Mandetta, experiências duras em saúde como foi a pandemia, “onde o SUS foi muito olhado, muito cobrado”, serviu também para o aprimoramento desse sistema em diferentes contextos, tornando-o mais experiente.

“Foi o único sistema que conseguiu ampliar leitos. Nós ampliamos 17 mil leitos de UTI [Unidades de Terapia Intensiva] num espaço de 45 dias. Isso não tem nenhum registro no mundo”, destacou Mandetta.

Já Nelson Teich, que teve uma passagem breve, mas intensa, comandando a pasta da Saúde entre abril e maio de 2020, após a saída de Mandetta, disse que as políticas públicas em saúde devem ser adaptadas às características de cada região. Teich defendeu a necessidade de uma abordagem mais estratégica para reduzir desigualdades regionais no acesso à saúde.

“Você não pode tratar o Brasil como um país médio. É preciso regionalizar as estratégias, considerando as especificidades locais, desde atenção primária até alta complexidade. Você vai avaliar por região, não tem como você ter uma política igual para todo mundo, você tem que ver as características daquele lugar. A partir daí, com o recurso que você tem, você vai descobrir quais são as suas prioridades e como você organiza essas linhas de cuidado. E aí vem aquelas partes mais difíceis que é implementação e execução”, comentou Teich.

Barreiras na gestão

Ao relembrar sua gestão, Mandetta comentou que a primeira ação que ele planejou ao assumir o Ministério da Saúde foi a execução de 100% do orçamento da pasta. "Se temos um orçamento, devemos executá-lo completamente. Não fazia sentido devolver dinheiro enquanto enfrentávamos carências graves no sistema", afirmou.

“Se a gente está nessa dificuldade de dinheiro, como é que eu vou deixar? Eu não deixei, foi a primeira vez que o Ministério da Saúde executou 100% do orçamento. Eu cheguei 31 de dezembro, zero de dinheiro no caixa. Dia 1º abriu outro, porque se tem um orçamento vamos executar o orçamento. E isso aumentou a nossa possibilidade de gasto”, completou Mandetta, ao exemplificar que com essa estratégia houve renovação da frota de ambulâncias do Samu, essencial para lidar com emergências, como a pandemia.

Questionado sobre quais foram as principais barreiras enfrentadas para provar que saúde é um investimento, especialmente no contexto do SUS, Teich não poupou exemplos de problemas enfrentados durante sua gestão.

“Barreira política é uma barreira grande, falta de informação no detalhamento necessário, falta de recursos financeiros, normalmente tem menos do que você gostaria e precisaria ter para levar esse tipo infraestrutura para todos os lugares, recursos humanos, porque em lugares mais distantes é difícil você fixar a pessoa ali. Se você não consegue, como você vai organizar isso? Isso tudo tem que ser muito bem planejado e muito bem pensado”, disse.

Estratégias

Tanto Teich como Mandetta assumiram que a gestão em saúde em um país com tantas especificidades como o Brasil é um desafio e tanto. Teich afirma que mudanças estruturais no sistema de saúde demandam continuidade e compromisso político acima de interesses individuais.

“Quando você vai arrumar o sistema para cuidar, tem mudança estrutural nisso aí, você não vai conseguir mudar da noite pro dia. Então, você tem que ter colaboração e cooperação. Você não pode ter interesse político acima do interesse da sociedade. Você tem que ter uma gestão centralizada, porque se você deixa todo mundo fazer o que quer é ineficiente”, defendeu Teich.

(Foto: Divulgação/Roche)

Já Mandetta defendeu a necessidade de planejamento logístico para suprir estados como o Amazonas, que enfrentam desafios únicos devido à localização geográfica e infraestrutura.  Ele também destacou a importância de prevenir doenças, priorizando ações simples, mas impactantes, como a vacinação.

"Uma vacina contra tétano, por exemplo, custa centavos, mas tratar uma pessoa com tétano pode ultrapassar milhões. Precisamos focar no básico para fazer o melhor com os recursos que temos. Se temos pouco dinheiro, vamos fazer o melhor que podemos com o que temos que é o que eu acho que já dava para fazer muita coisa”, disse.

Por fim, ambos concordam que o futuro do sistema de saúde pública do país depende de planejamento estratégico, gestão eficiente e cooperação entre os níveis de governo. Com suas peculiaridades e complexidades, o SUS continua sendo uma das maiores conquistas dos brasileiros, mas que exige atenção constante quanto às necessidades apresentadas diariamente.

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